FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS
EDINA LIMA
JHÉSSICA LOPES
MÁRCIA VIEIRA
MATHEUS OLIVEIRA
RITA JANUARIO
TALITA PEIXOTO
POBREZA: CONDIÇÃO OU OPÇÃO?
COM O OLHAR NO POBRE.
JEQUIÉ/BA
NOVEMBRO/2014
Introdução
A pobreza não é um fenômeno da época contemporânea.
Na história da humanidade pode-se encontrá-la em várias épocas. Mas o contexto
e as condições em que, hoje, com ela, se depara são peculiares. Envolvem
entrecruzamento complexo de fatores econômicos, políticos, sociais e culturais
que tem como pano de fundo o capitalismo e seus desdobramentos, permitindo a
construção de um conceito de pobreza a partir de condições conjunturais (
RIBEIRO, 2007, ZOBOLI, 2007).
Este
projeto de pesquisa de campo que traremos aqui tem o intuito de favorecer na
construção de novos debates sobre este assunto tão importante. O bairro de
Amaralina localiza-se, de acordo com os referenciais geopolíticos e gerenciais
adotados pela Prefeitura da Cidade de Jequié - Bahia, próximo a Avenida Cesar
Borges e o Bairro de São Judas Tadeu. Possuindo, em 2014, uma população de 4.000
habitantes na média, Amaralina tem como principal característica sociopolítica
de ser uma comunidade originada a partir de uma fazenda, onde inicialmente o
proprietário permitiu algumas pessoas a construírem suas casas, e
posteriormente houve uma invasão gerando um crescimento populacional e
estrutural desorganizado. Os anos se passaram não havendo melhorias quanto à
infraestrutura, saúde, desenvolvimento do local. Quanto à qualidade de vida
atual dos moradores continuam bastante precárias.
A
pobreza é uma forma de vulnerabilidade, pois os indivíduos tornam-se destituídos
das condições mínimas para viver e sobreviver. Além disso, tais circunstâncias
propiciam situação de indignidade aos indivíduos que, muitas vezes, não têm
como esquivar-se à exploração, como os sujeitos de investigação que são
recrutados nos países em desenvolvimento para participar de testes com drogas
não reconhecidas, em troca de dinheiro para suas necessidades não assistidas -
nem pela sociedade nem pelo Estado ( RIBEIRO, 2007, ZOBOLI, 2007).
Diversos
autores, especialmente de filiação marxista, destacam que a questão social é
indissociável do processo de acumulação capitalista, sendo produto das
contradições existentes entre a concentração de riqueza das classes dominantes
e a exploração da força de trabalho. O desenvolvimento dessa forma de produção
teve como repercussão social o aumento da pobreza generalizada, em especial, da
classe trabalhadora (NETTO, 2001; IAMAMOTO , 2001).
A partir da década de 1990, o
enfrentamento da pobreza ganha centralidade no âmbito das políticas públicas em
dimensão global como um problema inaceitável ao desenvolvimento do capitalismo
no final do século XX. Aliadas a esse debate, as estratégias de combate à
pobreza corporificam, a partir de então, uma nova institucionalidade das
políticas sociais, que passam a ser direcionadas pelas orientações das agências
internacionais. Isso ocorre em função do papel decisivo das mesmas para
financiamento de ações de caráter nacional para a redução da pobreza,
especialmente entre os países da América Latina (UGÁ, 2004; 2008).
Passados
43 anos da teoria da marginalidade latino-americana, apresentamos esse tema tão
salutar para corroborar na discussão do nosso trabalho que tem como objetivo estudar
a pobreza: condição ou opção. Com o olhar no pobre. Ao longo desse período,
verifica-se que o debate foi redefinido na perspectiva teórica da exclusão
social. O enfrentamento da exclusão, mesmo implícito em estratégias
institucionais globais endereçadas aos problemas sociais contemporâneos.
Justificativa
Socialmente,
apesar da importância histórica da teoria da marginalidade, essa matriz
explicativa foi abandonada em virtude da emergência do conceito de exclusão
social para enunciar e tratar a expressão contemporânea da questão social em
escala global, a qual analisa o fenômeno para além da dualidade de um polo
social marginal versus integrado, relacionando-o a mudanças culturais,
políticas e econômicas vinculadas aos processos de globalização e
reestruturação produtiva que deram origem a uma “nova pobreza” (ROSAN VALLON,
1998).
Desta forma, este trabalho tem
como objetivo analisar a pobreza: condição ou opção com o olhar no pobre
na comunidade de Amaralina na cidade Jequié – Bahia. Ao final do trabalho os
pesquisadores realizarão uma palestra com os participantes, esclarecendo os
resultados da pesquisa.
OBJETIVO GERAL
Analisar as
possíveis vertentes que direcionaram a condição e/ou opção de pobreza. Com o
olhar no pobre.
OBJETIVO ESPECÍFICO
Identificar através dos
relatos se as duas categorias condição e/ou opção impostas aos indivíduos.
METODOLOGIA
O estudo apresentado é de natureza qualitativa, aspectos
subjetivos, motivações não explícitas, conscientes ou não, detalhamento teórico
maior, subjetividade do pesquisador e dificuldade de replicação.
As pesquisas qualitativas na
Sociologia trabalham com: significados, motivações, valores e crenças e estes
não podem ser simplesmente reduzidos às questões quantitativas, pois que,
respondem a noções muitos particulares. (MINAYO, 1996).
(................)
Optamos por este tipo de pesquisa por
consideramos a importância do aprendizado dos significados expressos através
deste estudo de campo, sendo este de caráter exploratório, onde os
pesquisadores assumem o papel de observadores e exploradores, utilizando
instrumentos precisos de investigação, realizando buscas em artigos
científicos, livros e dissertações na literatura nacional, bases de dados
eletrônicos e biblioteca digital. Através de uma pesquisa de estudo de campo,
com objetivo de levantamento dos aspectos, aplicamos este método fundamentando
a importância do nível da relação pessoal entre entrevistador e entrevistado
para assim obtermos sucesso nesta técnica. A principio desenvolvemos um diálogo
informal sobre o assunto proposto, alcançando um publico de 32 (trinta e dois)
pessoas aleatoriamente. Foi solicitado aos sujeitos que participassem deste
projeto e que se voluntariassem a assim estarem falando em um diálogo informal.
Estes foram abordados e entrevistados na comunidade em que residem em
diferentes locais, suas casas, em praças e no meio da rua. É importante
salientar que, apesar das vantagens apresentadas, a entrevista não garante que
os dados e informações coletadas sejam fidedignos, por isso requer que estas
técnicas sejam utilizadas em conjunto com outros métodos de coleta de dados.
Como desvantagens ou limitações, (GIL1999 p.118), considera
que:
a) A falta de motivação do entrevistado
para responder as perguntas que lhe são feitas;
b) A inadequada compreensão dos
significados das perguntas;
c) O fornecimento de respostas falsas,
determinadas por razões conscientes ou inconscientes.
d) Inabilidade, ou mesmo incapacidade, do
entrevistado para responder adequadamente, em decorrência de insuficiência
vocabular ou de problemas psicológicos.
e) A influência exercida pelo aspecto
pessoal do entrevistador sobre o entrevistado;
f) A influência das opiniões pessoais do
entrevistador sobre as respostas do entrevistado.
Ribeiro (2008) identifica como pontos
fracos da técnica: o custo elevado, o consumo de muito tempo na aplicação, a
sujeição à polarização do entrevistador, a não garantia do anonimato, a
sensibilidade aos efeitos no entrevistado, as características do entrevistador
e do entrevistado, o treinamento especializado que requer, as questões que
direcionam a resposta.
A amostra compreenderá a comunidade de
Amaralina localizada na cidade de Jequié Bahia.
O procedimento adotado será através de
observação e visita a comunidade para retirada dos dados através de anotações
mediante as observações e escuta das visões dos moradores desta localidade,
anotações estas que serão analisadas posteriormente por nós e transformadas em
dados numéricos. Este projeto tem como finalidade pesquisar os fatores que influenciam
direta e indiretamente este olhar no pobre.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram feitas varias visitas a localidade para a observação e coleta de
informações através dos instrumentos de pesquisa que nós adotamos, a entrevista
informal livre e a observação informal.
Segundo (Torres, 2011; Neiva, 2011) é por meio de observação informal
que registramos o que acontece em torno de nosso meio social e ambiental. Sem
categorias preestabelecidas nem hipóteses formais, esse tipo de observação se
aproxima mais dos estudos qualitativos. Tais observações são importantes na
fase inicial de qualquer pesquisa e constituem a base para formular perguntas
sistemáticas acerca de determinado comportamento.
Iniciaremos as discussões com algumas impressões colhidas ao longo deste
trabalho, que nos chamou a atenção à vivência relatada por Dona Maria.
Dona Maria, 58 anos de idade, veio morar
naquela localidade ainda quando era fazenda e não tinha água não tinha luz. Iniciamos a entrevista informal e ela nos
recebe muito bem e com a seguinte frase “Estou
na labuta!”, começa a nos contar como foi que se deu a história da formação
da comunidade citado no início deste parágrafo. Maria continua o seu relato dizendo “aí veio à água e a luz, não tem
esgotamento, moro com um neto de 13 anos, estudante, todos os
meus parentes moram próximos na mesma rua, antes aqui era um pasto repleto de quixabeira(planta própria da
localidade) e juá(é uma árvore típica do Nordeste do Brasil.), os moradores mais
antigos eram Liberato, Velho Tuli e Cosme, sendo que só resta vivo destes
a esposa do senhor Cosme. As
primeiras casas de taipa coberta de paia de curioba foi permitida pelo
proprietário da fazenda, logo depois invadiram, aí fizeram o loteamento. O
trabalho antigamente era braçal, lavava roupas de ganho, nas casas
da redondeza e limpando manga”.
Percebemos a vontade por parte dos
moradores em ter prazer em relatar o pouco que tem, e também comemoram o pouco
que tem "graças a deus que agora
posso apertar o botão da luz e acender" Dona Maria agora com os filhos
criados e todos morando perto nos traz o retrato local de uma comunidade
familiar, um povo que veio ao longo do tempo de uma exclusão, e que de
certa forma percebemos estarem acomodados sem perspectivas maiores, os filhos
de Dona Maria hoje estão casados e exercem profissões que não requer um grau de
escolaridade apurada. Ressaltamos a falta de uma qualidade dos serviços
públicos, que quando chega à comunidade chega de forma precária, podemos
observar diante das conversas informais que o indivíduo não está tão incomodado
com a situação que não tem uma visão para deslumbrar um futuro melhor. Com
baixa autoestima e a pobreza como opção. Já analisando em aspectos políticos,
ou a falta de políticas públicas, de participação do poder público.
Milton
Santos afirma que a pobreza não pode ser vista como um problema estritamente
econômico; ela é, acima de tudo, um problema social. Trata-se de uma categoria
política, razão pela qual sua definição deve ir além de uma análise baseada em
indicadores socioeconômicos como profissão, renda e escolaridade.
Faltam investimentos por parte do poder
público entre outros fatores, a pobreza se torna condição imposta ao
sujeito excluído dentro do processo social contemporâneo.
(...............)
Muitos fatores apontados como
determinantes do adoecimento foram relacionados, pelos participantes, à
precária situação de vida. A violência cotidiana, em suas diversas formas, foi
considerada como um fator de adoecimento das pessoas. A luta pela sobrevivência
– que impõe baixos salários e mesmo falta de emprego –, a criminalidade, a
dificuldade de acesso às escolas e aos serviços de saúde, as condições
insalubres de moradia, o dilaceramento das relações familiares, a falta de
tempo para cuidar de si, entre outras expressões de violência, geram estresse,
revolta, raiva, depressão e diversos outros sintomas psicológicos.
Os
jovens que nascem hoje nesse contexto da continuidade nesta separação de classe
social por carregar parte desta herança cultural, e por participar deste
processo que está em curso sem poder achar mecanismo para desvincula-lo, quebrando
este abismo social, o jovem amaralinense busca a realização dos
sonhos e do prazer dentro da perspectiva que este encontra mais próximo,
que muitas vezes com mais rapidez para
alcançar os desejos a serem realizados, no
trabalho para o tráfico de drogas, que garante a ostentação, retorno financeiro
rápido e não necessita de maiores esforços, pela facilidade e pela "falsa
segurança" que o sistema possui diante das dificuldades encontradas
no dia-a-dia.
(...................)
Martins considera que a lógica da
sociedade capitalista é de excluir para incluir de outro modo, segundo suas
próprias regras. O problema da exclusão começou a se tornar mais visível,
atualmente, em razão do longo tempo para a reinclusão, que frequentemente se dá
à custa de certa degradação. A inclusão ocorre, mesmo que de forma marginal,
precária e instável. Esse processo cria uma sociedade paralela que é includente
do ponto de vista econômico e excludente do ponto de vista social, moral e até
político. Para jovens com pouca perspectiva de trabalho e de futuro, invisíveis
para a sociedade e moradores de um local identificado como lócus da bandidagem,
o narcotráfico se oferece como uma possibilidade de saída. A visibilidade e a
perspectiva de aquisição de poder ganham o imaginário de jovens, atraindo- os
para o crime organizado como possibilidade de ascensão social e às vezes até
para conquistar a namorada: Ah, deixa estar! Quando eu estiver no
poder você vai me querer. De fato, algumas jovens adquirem status através
de suas relações com os traficantes. Ainda muito novas engravidam e, segundo a
fala de uma liderança comunitária, é como se fosse uma fábrica de sucessão.
(.............)
Dentre os casos observados e aqui
ressaltamos que foram poucos para que possamos retirar uma impressão próxima à
realidade. Destaca que 55% dos jovens num total de 12, não trabalham de
carteira assinada e não trabalha em instituições sérias corretas, ou seja, seus
trabalhos são em torno do tráfico de drogas. E 50% dos adultos têm trabalhos em
cargos que exigem pouca escolaridade, de um total de 20 adultos observados, as
profissões em destaque foram ajudantes de pedreiro, cambistas de jogos, padeiro,
dona de casa, carroceiro. Sendo 40 % dos trabalhadores braçais de
diversas áreas com maior intensidade que foram identificados em nossas
observações.
As habilidades encontradas foram as seguintes:
doceira, quituteiras, vendedoras de alimentos em geral, artesões entre
outras habilidades diversas, que utiliza desta habilidade para complementar a
renda familiar que muitas das vezes não chega a um salário mínimo, "os famosos bicos”, foi esta a
expressão usada por um pai de família que assim completa sua renda
familiar.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Para que possamos pensar em práticas de
integralidade, faz-se necessária a compreensão ampla da desigualdade social
para a promoção de qualidade de vida. Isto nos leva a um olhar segundo o qual a
produção da igualdade, na maior parte das vezes, está fora do campo restrito
das ações de governabilidade política, pois, além de biológica, a produção da
igualdade é social. Neste sentido, se não levarmos em conta as dimensões
sociais e culturais envolvidas nos processos de inclusão social, e
especificamente os aspectos relacionados à redução da pobreza e à diminuição
das desigualdades sociais, com certeza continuaremos a nos deparar com uma
série de impasses que comprometem a vida dos indivíduos, elevando o nível do
seu sofrimento e o adoecimento da sociedade como um todo. A compreensão de que
a pobreza compromete a saúde deve estar no horizonte de todos aqueles que se
dedicam à implementação e à gestão de políticas públicas. Enfim, políticas de
redução da pobreza fazem-se urgentes e necessárias na luta pela promoção da igualdade
e garantia dos direitos de cidadania.
Quanto a nossa temática inicial que se
refere à pobreza: condição ou opção? Com o olhar no pobre. Percebemos ao longo
deste projeto maravilhoso e que por nós foi realizado de uma forma simplória,
através de uma pequena observação a partir do assunto, que para trazer
possíveis soluções, deve-se fazer uma pesquisa aprofundada com uma
sistematização mais elaborada para obter respostas mais plausíveis que direcionem
a possíveis soluções. Porém diante de tudo que foi observado na história de
vida, concluímos que há as duas categorias
sendo imposta aos indivíduos. Porém, nesta comunidade, e com as poucas
características analisadas, foi observado que neste caso específico, os
indivíduos estão sobre o agente pobreza enquanto condição, com a perspectiva do
olhar voltado no pobre.
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