domingo, 15 de março de 2015

POBREZA: CONDIÇÃO OU OPÇÃO?


FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS

 

EDINA LIMA

JHÉSSICA LOPES

MÁRCIA VIEIRA

MATHEUS OLIVEIRA

RITA JANUARIO

TALITA PEIXOTO

 


 

POBREZA: CONDIÇÃO OU OPÇÃO?

COM O OLHAR NO POBRE.

 


JEQUIÉ/BA

NOVEMBRO/2014
 
 
 
 
Introdução
 
 
    A pobreza não é um fenômeno da época contemporânea. Na história da humanidade pode-se encontrá-la em várias épocas. Mas o contexto e as condições em que, hoje, com ela, se depara são peculiares. Envolvem entrecruzamento complexo de fatores econômicos, políticos, sociais e culturais que tem como pano de fundo o capitalismo e seus desdobramentos, permitindo a construção de um conceito de pobreza a partir de condições conjunturais ( RIBEIRO, 2007, ZOBOLI, 2007).
     Este projeto de pesquisa de campo que traremos aqui tem o intuito de favorecer na construção de novos debates sobre este assunto tão importante. O bairro de Amaralina localiza-se, de acordo com os referenciais geopolíticos e gerenciais adotados pela Prefeitura da Cidade de Jequié - Bahia, próximo a Avenida Cesar Borges e o Bairro de São Judas Tadeu. Possuindo, em 2014, uma população de 4.000 habitantes na média, Amaralina tem como principal característica sociopolítica de ser uma comunidade originada a partir de uma fazenda, onde inicialmente o proprietário permitiu algumas pessoas a construírem suas casas, e posteriormente houve uma invasão gerando um crescimento populacional e estrutural desorganizado. Os anos se passaram não havendo melhorias quanto à infraestrutura, saúde, desenvolvimento do local. Quanto à qualidade de vida atual dos moradores continuam bastante precárias.
     A pobreza é uma forma de vulnerabilidade, pois os indivíduos tornam-se destituídos das condições mínimas para viver e sobreviver. Além disso, tais circunstâncias propiciam situação de indignidade aos indivíduos que, muitas vezes, não têm como esquivar-se à exploração, como os sujeitos de investigação que são recrutados nos países em desenvolvimento para participar de testes com drogas não reconhecidas, em troca de dinheiro para suas necessidades não assistidas - nem pela sociedade nem pelo Estado ( RIBEIRO, 2007, ZOBOLI, 2007).
     Diversos autores, especialmente de filiação marxista, destacam que a questão social é indissociável do processo de acumulação capitalista, sendo produto das contradições existentes entre a concentração de riqueza das classes dominantes e a exploração da força de trabalho. O desenvolvimento dessa forma de produção teve como repercussão social o aumento da pobreza generalizada, em especial, da classe trabalhadora (NETTO, 2001; IAMAMOTO , 2001).
 
     A partir da década de 1990, o enfrentamento da pobreza ganha centralidade no âmbito das políticas públicas em dimensão global como um problema inaceitável ao desenvolvimento do capitalismo no final do século XX. Aliadas a esse debate, as estratégias de combate à pobreza corporificam, a partir de então, uma nova institucionalidade das políticas sociais, que passam a ser direcionadas pelas orientações das agências internacionais. Isso ocorre em função do papel decisivo das mesmas para financiamento de ações de caráter nacional para a redução da pobreza, especialmente entre os países da América Latina (UGÁ, 2004; 2008).
       Passados 43 anos da teoria da marginalidade latino-americana, apresentamos esse tema tão salutar para corroborar na discussão do nosso trabalho que tem como objetivo estudar a pobreza: condição ou opção. Com o olhar no pobre. Ao longo desse período, verifica-se que o debate foi redefinido na perspectiva teórica da exclusão social. O enfrentamento da exclusão, mesmo implícito em estratégias institucionais globais endereçadas aos problemas sociais contemporâneos.
   
 
Justificativa
 
 
   Socialmente, apesar da importância histórica da teoria da marginalidade, essa matriz explicativa foi abandonada em virtude da emergência do conceito de exclusão social para enunciar e tratar a expressão contemporânea da questão social em escala global, a qual analisa o fenômeno para além da dualidade de um polo social marginal versus integrado, relacionando-o a mudanças culturais, políticas e econômicas vinculadas aos processos de globalização e reestruturação produtiva que deram origem a uma “nova pobreza” (ROSAN VALLON, 1998).
     Desta forma, este trabalho tem como objetivo analisar a pobreza: condição ou opção com o olhar no pobre na comunidade de Amaralina na cidade Jequié – Bahia. Ao final do trabalho os pesquisadores realizarão uma palestra com os participantes, esclarecendo os resultados da pesquisa.
 
 
 
 
OBJETIVO GERAL
 
 
 
      Analisar as possíveis vertentes que direcionaram a condição e/ou opção de pobreza. Com o olhar no pobre.
 
OBJETIVO ESPECÍFICO
 
     Identificar através dos relatos se as duas categorias condição e/ou opção impostas aos indivíduos.
 
 
METODOLOGIA
 
 
 
O estudo apresentado é de natureza qualitativa, aspectos subjetivos, motivações não explícitas, conscientes ou não, detalhamento teórico maior, subjetividade do pesquisador e dificuldade de replicação.
            As pesquisas qualitativas na Sociologia trabalham com: significados, motivações, valores e crenças e estes não podem ser simplesmente reduzidos às questões quantitativas, pois que, respondem a noções muitos particulares. (MINAYO, 1996).
(................)
           Optamos por este tipo de pesquisa por consideramos a importância do aprendizado dos significados expressos através deste estudo de campo, sendo este de caráter exploratório, onde os pesquisadores assumem o papel de observadores e exploradores, utilizando instrumentos precisos de investigação, realizando buscas em artigos científicos, livros e dissertações na literatura nacional, bases de dados eletrônicos e biblioteca digital. Através de uma pesquisa de estudo de campo, com objetivo de levantamento dos aspectos, aplicamos este método fundamentando a importância do nível da relação pessoal entre entrevistador e entrevistado para assim obtermos sucesso nesta técnica. A principio desenvolvemos um diálogo informal sobre o assunto proposto, alcançando um publico de 32 (trinta e dois) pessoas aleatoriamente. Foi solicitado aos sujeitos que participassem deste projeto e que se voluntariassem a assim estarem falando em um diálogo informal. Estes foram abordados e entrevistados na comunidade em que residem em diferentes locais, suas casas, em praças e no meio da rua. É importante salientar que, apesar das vantagens apresentadas, a entrevista não garante que os dados e informações coletadas sejam fidedignos, por isso requer que estas técnicas sejam utilizadas em conjunto com outros métodos de coleta de dados.
Como desvantagens ou limitações, (GIL1999 p.118), considera que:
a) A falta de motivação do entrevistado para responder as perguntas que lhe são feitas;
b) A inadequada compreensão dos significados das perguntas;
c) O fornecimento de respostas falsas, determinadas por razões conscientes ou inconscientes.
d) Inabilidade, ou mesmo incapacidade, do entrevistado para responder adequadamente, em decorrência de insuficiência vocabular ou de problemas psicológicos.
e) A influência exercida pelo aspecto pessoal do entrevistador sobre o entrevistado;
f) A influência das opiniões pessoais do entrevistador sobre as respostas do entrevistado. 
          Ribeiro (2008) identifica como pontos fracos da técnica: o custo elevado, o consumo de muito tempo na aplicação, a sujeição à polarização do entrevistador, a não garantia do anonimato, a sensibilidade aos efeitos no entrevistado, as características do entrevistador e do entrevistado, o treinamento especializado que requer, as questões que direcionam a resposta.
         A amostra compreenderá a comunidade de Amaralina localizada na cidade de Jequié Bahia.
         O procedimento adotado será através de observação e visita a comunidade para retirada dos dados através de anotações mediante as observações e escuta das visões dos moradores desta localidade, anotações estas que serão analisadas posteriormente por nós e transformadas em dados numéricos.  Este projeto tem como finalidade pesquisar os fatores que influenciam direta e indiretamente este olhar no pobre.
 
 
 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
 
 
 
       Foram feitas varias visitas a localidade para a observação e coleta de informações através dos instrumentos de pesquisa que nós adotamos, a entrevista informal livre e a observação informal.
       Segundo (Torres, 2011; Neiva, 2011) é por meio de observação informal que registramos o que acontece em torno de nosso meio social e ambiental. Sem categorias preestabelecidas nem hipóteses formais, esse tipo de observação se aproxima mais dos estudos qualitativos. Tais observações são importantes na fase inicial de qualquer pesquisa e constituem a base para formular perguntas sistemáticas acerca de determinado comportamento.
       Iniciaremos as discussões com algumas impressões colhidas ao longo deste trabalho, que nos chamou a atenção à vivência relatada por Dona Maria.
       Dona Maria, 58 anos de idade, veio morar naquela localidade ainda quando era fazenda e não tinha água não tinha luz.  Iniciamos a entrevista informal e ela nos recebe muito bem e com a seguinte frase “Estou na labuta!”, começa a nos contar como foi que se deu a história da formação da comunidade citado no início deste parágrafo.  Maria continua o seu relato dizendo “aí veio à água e a luz,  não tem esgotamento,  moro com um neto de 13 anos,  estudante,  todos os meus parentes moram próximos na mesma rua,  antes aqui era um  pasto repleto de quixabeira(planta própria da localidade) e juá(é uma árvore típica do Nordeste do Brasil.), os moradores mais antigos eram Liberato,  Velho Tuli e Cosme, sendo que só resta vivo destes a esposa do senhor  Cosme. As  primeiras casas de taipa coberta de paia de curioba foi permitida pelo proprietário da fazenda,  logo depois invadiram, aí fizeram o loteamento. O trabalho antigamente era braçal,  lavava roupas de ganho,  nas casas da redondeza e  limpando manga”. 
       Percebemos a vontade por parte dos moradores em ter prazer em relatar o pouco que tem, e também comemoram o pouco que tem "graças a deus que agora posso apertar o botão da luz e acender" Dona Maria agora com os filhos criados e todos morando perto nos traz o retrato local de uma comunidade familiar, um povo que veio ao longo do tempo de uma exclusão,  e que de certa forma percebemos estarem acomodados sem perspectivas maiores, os filhos de Dona Maria hoje estão casados e exercem profissões que não requer um grau de escolaridade apurada.  Ressaltamos a falta de uma qualidade dos serviços públicos, que quando chega à comunidade chega de forma precária,  podemos observar diante das conversas informais que o indivíduo não está tão incomodado com a situação que não tem uma visão para deslumbrar um futuro melhor. Com baixa autoestima e a pobreza como opção. Já analisando em aspectos políticos, ou a falta de políticas públicas, de participação do poder público.
        Milton Santos afirma que a pobreza não pode ser vista como um problema estritamente econômico; ela é, acima de tudo, um problema social. Trata-se de uma categoria política, razão pela qual sua definição deve ir além de uma análise baseada em indicadores socioeconômicos como profissão, renda e escolaridade.
        Faltam investimentos por parte do poder público entre outros fatores,  a pobreza se torna condição imposta ao sujeito excluído dentro do processo social contemporâneo.
    (...............)
       Muitos fatores apontados como determinantes do adoecimento foram relacionados, pelos participantes, à precária situação de vida. A violência cotidiana, em suas diversas formas, foi considerada como um fator de adoecimento das pessoas. A luta pela sobrevivência – que impõe baixos salários e mesmo falta de emprego –, a criminalidade, a dificuldade de acesso às escolas e aos serviços de saúde, as condições insalubres de moradia, o dilaceramento das relações familiares, a falta de tempo para cuidar de si, entre outras expressões de violência, geram estresse, revolta, raiva, depressão e diversos outros sintomas psicológicos.
        Os jovens que nascem hoje nesse contexto da continuidade nesta separação de classe social por carregar parte desta herança cultural, e por participar deste processo que está em curso sem poder achar mecanismo para desvincula-lo, quebrando este abismo social,  o jovem amaralinense busca a realização dos sonhos  e do prazer dentro da perspectiva que este encontra mais próximo, que muitas  vezes com mais rapidez para alcançar os desejos a serem realizados,  no trabalho para o tráfico de drogas, que garante a ostentação, retorno financeiro rápido e não necessita de maiores esforços, pela facilidade e pela "falsa segurança"  que o sistema possui diante das dificuldades encontradas no dia-a-dia.
(...................)
       Martins considera que a lógica da sociedade capitalista é de excluir para incluir de outro modo, segundo suas próprias regras. O problema da exclusão começou a se tornar mais visível, atualmente, em razão do longo tempo para a reinclusão, que frequentemente se dá à custa de certa degradação. A inclusão ocorre, mesmo que de forma marginal, precária e instável. Esse processo cria uma sociedade paralela que é includente do ponto de vista econômico e excludente do ponto de vista social, moral e até político. Para jovens com pouca perspectiva de trabalho e de futuro, invisíveis para a sociedade e moradores de um local identificado como lócus da bandidagem, o narcotráfico se oferece como uma possibilidade de saída. A visibilidade e a perspectiva de aquisição de poder ganham o imaginário de jovens, atraindo- os para o crime organizado como possibilidade de ascensão social e às vezes até para conquistar a namorada: Ah, deixa estar! Quando eu estiver no poder você vai me querer. De fato, algumas jovens adquirem status através de suas relações com os traficantes. Ainda muito novas engravidam e, segundo a fala de uma liderança comunitária, é como se fosse uma fábrica de sucessão.
(.............)
    Dentre os casos observados e aqui ressaltamos que foram poucos para que possamos retirar uma impressão próxima à realidade. Destaca que 55% dos jovens num total de 12, não trabalham de carteira assinada e não trabalha em instituições sérias corretas, ou seja, seus trabalhos são em torno do tráfico de drogas. E 50% dos adultos têm trabalhos em cargos que exigem pouca escolaridade, de um total de 20 adultos observados, as profissões em destaque foram ajudantes de pedreiro, cambistas de jogos, padeiro, dona de casa,  carroceiro. Sendo 40 % dos trabalhadores braçais de diversas áreas com maior intensidade que foram  identificados em nossas observações.
        As habilidades encontradas foram as seguintes: doceira, quituteiras,  vendedoras de alimentos em geral, artesões entre outras habilidades diversas, que utiliza desta habilidade para complementar a renda familiar que muitas das vezes não chega a um salário mínimo, "os famosos bicos”, foi esta a expressão usada por um pai de família que assim completa sua renda familiar.
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
 
       Para que possamos pensar em práticas de integralidade, faz-se necessária a compreensão ampla da desigualdade social para a promoção de qualidade de vida. Isto nos leva a um olhar segundo o qual a produção da igualdade, na maior parte das vezes, está fora do campo restrito das ações de governabilidade política, pois, além de biológica, a produção da igualdade é social. Neste sentido, se não levarmos em conta as dimensões sociais e culturais envolvidas nos processos de inclusão social, e especificamente os aspectos relacionados à redução da pobreza e à diminuição das desigualdades sociais, com certeza continuaremos a nos deparar com uma série de impasses que comprometem a vida dos indivíduos, elevando o nível do seu sofrimento e o adoecimento da sociedade como um todo. A compreensão de que a pobreza compromete a saúde deve estar no horizonte de todos aqueles que se dedicam à implementação e à gestão de políticas públicas. Enfim, políticas de redução da pobreza fazem-se urgentes e necessárias na luta pela promoção da igualdade e garantia dos direitos de cidadania.
 Quanto a nossa temática inicial que se refere à pobreza: condição ou opção? Com o olhar no pobre. Percebemos ao longo deste projeto maravilhoso e que por nós foi realizado de uma forma simplória, através de uma pequena observação a partir do assunto, que para trazer possíveis soluções, deve-se fazer uma pesquisa aprofundada com uma sistematização mais elaborada para obter respostas mais plausíveis que direcionem a possíveis soluções. Porém diante de tudo que foi observado na história de vida, concluímos que há  as duas categorias sendo imposta aos indivíduos. Porém, nesta comunidade, e com as poucas características analisadas, foi observado que neste caso específico, os indivíduos estão sobre o agente pobreza enquanto condição, com a perspectiva do olhar voltado no pobre.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
 
 
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas ,1999. 202.p.ISBN: 8522422702.
MARTINS JS. Exclusão social e a nova desigualdade.São Paulo: Paulus; 1997.
 
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. 6A Edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1996.
NETTO , J.P. Cinco notas a propósito da “questão social”. Temporalis, n.3, p.41-49, 2001.
RIBEIRO, C. R. Oliveira; ZOBOLI, E. L. C. Pavone; Pobreza, Bioética e Pesquisa, Rev. Latino-am Enfermagem 2007 setembro-outubro; 15(número especial).
RIBEIRO, Elisa Antonia. A perspectiva da entrevista investigação qualitativa. Evidencia: olhares em pesquisa em saberes educacionais, Araxá/MG, n 04, p139-148, maio de 2008.
ROCHA S. A pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV; 2003.
 
ROSAN VALLON , P. A nova questão social: repensando o estado providência. Brasília, DF:Instituto Teotônio Vilela, 1998. 170p.
SANTOS M. Pobreza urbana. São Paulo: Hucitec; 1979.
SAVI E.A. O sofrimento difuso das mulheres na Maré: estudo sobre a experiência de um grupo de convivência [dissertação]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fiocruz; 2005.
 
UGÁ, V. D. A categoria “pobreza” nas formulações de política social do Banco Mundial. Revista de Sociologia e Política, v.23, p.55-62, 2004.
 
UGÁ, Vívian, D. A questão social como “pobreza”: crítica à conceituação neoliberal. Tese Doutorado em Ciência Política - Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. 232p.

domingo, 1 de março de 2015

Psicologia comportamental na estratégia de preços

Autor: Gustavo Bachion


Behavioral pricing: Psicologia comportamental na estratégia de preços



   Estudos demonstram que os consumidores não são completamente racionais nas suas decisões de compras. O processo de decisão envolve também um grande componente emocional, muitas vezes negligenciado pelas empresas. Ambos os aspectos racional e emocional podem ser estimulados de acordo com o contexto e as circunstâncias da compra.

        Imagine, por exemplo, que você esteja na praia, que faça muito calor e que você queira muito beber uma cerveja gelada. Considere agora que exista apenas um bar próximo, onde você poderia comprar a sua cerveja. Qual é o valor que esta cerveja representaria para você nesta situação? Quanto você estaria disposto a pagar por ela? Em outra circunstância diferente, você estaria disposto a pagar o mesmo preço pela mesma cerveja? Uma rápida reflexão a respeito desta situação hipotética nos leva à conclusão de que as nossas decisões dependem tanto do contexto como do próprio produto em si.


       Há inúmeras situações em que nós observamos na prática comportamentos dos consumidores análogos ao do exemplo apresentado. Em bens de consumo, quando o consumidor depara-se com duas opções de um mesmo tipo de produto, ele tipicamente tende a escolher a opção mais barata. Entretanto, ao adicionarmos uma terceira opção, de valor mais alto, notamos uma clara mudança no comportamento do consumidor, que agora tende a escolher a oferta intermediária com maior frequência. A justificativa é que a maioria dos consumidores prefere evitar extremos, o que minimiza o seu risco percebido.

          Considerar a psicologia comportamental é um fator essencial a ser levado em conta pelas empresas na formulação das suas estratégias de precificação. Entretanto, ainda é algo negligenciado ou ignorado pela grande maioria das companhias. O maior desafio é que as metodologias atuais utilizadas para a compreensão do comportamento do consumidor assumem que ele seja puramente racional, o que não ocorre de fato. A nossa ampla experiência em consultoria e diversos estudos já realizados nesta área demostram que, de fato, existe um importante fator emocional influenciando as decisões dos consumidores.


        A aplicação de behavioral pricing com sucesso requer testes e experimentos prévios dos conceitos e recomendações que se desejam implementar no mercado, antes que o sejam. A Simon-Kucher & Partners já testemunhou diversas empresas obterem efeitos bastante adversos, ao aplicarem teorias de precificação comportamental sem o devido conhecimento teórico das mesmas e sem experimentação prévia. Existem três principais tipos de testes que nós recomendamos aos nossos clientes para a implementação de behavioral pricing: 1. focus groups; 2. experimentos controlados de comunicação de preço e valor; e 3. testes de preços.

      Idealmente, as empresas deveriam utilizar os três métodos simultaneamente e comparar os resultados obtidos. Em nossa experiência, no Brasil e na prática, muitas empresas que ainda fazem precificação de forma empírica, e as empresas que já começaram a utilizar métodos mais sofisticados geralmente escolhem um método apenas.
    Há diversos conceitos comportamentais que podem ser aplicados. Saber qual conceito utilizar, e como aplica-lo, é normalmente o maior desafio das empresas que nos procuram. Apesar das particularidades de cada negócio, uma recomendação válida em geral é utilizar um conceito comportamental que esteja em linha com a personalidade da marca.


Tabela 1. Personalidade das marcas



       Numa empresa como a Netflix, por exemplo, os conceitos comportamentais devem reforçar transparência e simplicidade. Taxas escondidas não funcionarão para a Netflix porque não combinam com a identidade da sua marca. Por isso eles escolheram entrar no Brasil com um preço de R$15 por mês.

      Por fim, behavioral pricing deve ser aplicado preferencialmente por empresas já em um estágio mais avançado de processos de precificação. O primeiro passo deve ser sair da precificação baseada em custos e entender o valor percebido pelos consumidores. Quando este já estiver bem consolidado, behavioral pricing pode ser utilizado como uma alavanca adicional para incremento de captura de valor e otimização do resultado. E lembre-se sempre de buscar uma abordagem de “test and learn”, ao invés de “test and burn”.



Fonte:http://www.mundodomarketing.com.br/artigos/gustavo-bachion/32931/behavioral-pricing-psicologia-comportamental-na-estrategia-de-precos.html
* com Manuel Osorio, Managing partner da Simon-Kucher LATAM
............

Postagens Populares