Texto de
O treinador da Alemanha, Joachim Löw, afirmou na semana passada que
“o Brasil tem o emocional como o grande diferencial diante dos rivais
europeus”. O comandante alemão está absolutamente correto em sua
afirmação. A emoção bem trabalhada é um combustível dos mais importantes
na ativação mental, autocontrole e equilíbrio interno. Por outro lado,
quando existe um grupo com uma emotividade evidentemente elevada, é
preciso um cuidado maior para que ela não jogue contra o próprio grupo.
Creio que o treinador da Seleção Brasileira já aprendeu que passar
vídeos apelativos momentos antes de grandes decisões opera um efeito
contrário ao desejado. Afinal, de combustível inflamável já bastam os
onze jogadores em campo e a pressão e expectativa de outros duzentos
milhões que estão ao redor do time.
Ainda dentro dessa questão, a ausência do Neymar certamente será
importante no jogo contra a Alemanha. Esse fato pode unir a equipe e até
fortalecê-la emocionalmente, desde que os jogadores se apeguem no
desejo de vencer e não na necessidade imposta pela mídia e reforçada
pela sociedade. É preciso ter espaço para querer – perseguir o sonho,
representar o colega, o país, a equipe.
Confesso que fico preocupado com esses boatos que o Neymar – em caso
de classificação da Seleção, poderá – quem sabe, atuar na final da Copa.
Isso gera – de forma desnecessária – ainda mais expectativas no grupo
e, de acordo com a maioria absoluta dos médicos ortopedistas, a lesão do
atleta demora de 4 a 7 semanas para a total recuperação. Então, o
momento é o de focar no grupo, naqueles que poderão (e deverão) tomar à
frente – exercer o papel de liderança, falar mais dentro de campo,
compartilhar a confiança e o espírito de grupo (muito daquilo que –
apenas a presença de Neymar – era capaz de promover na equipe).
O capítulo Neymar precisa ser superado. E rápido. Obviamente que foi
perdida uma referência incrível dentro de campo, embora nos dois últimos
jogos da Seleção, pouco se observou em termos do rendimento esperado do
atleta. Talvez pelo altíssimo acúmulo de lesões e, claro, pelas
seguidas pancadas que o jogador sofreu na primeira fase do Mundial.
Psicologicamente, a baixa sofrida pela Seleção com a ausência de sua
maior referência abre caminho para que o grupo possa se reorganizar de
uma nova forma dentro de campo. O conjunto de forças representado pela
presença de novos jogadores que atuarão na semi-final diante da Alemanha
pode ser capaz de gerar um resultado surpreendente – positiva ou
negativamente. É como um novo experimento laboratorial – só que
realizado com humanos – durante o maior evento esportivo do universo. O
resultado é uma incógnita tão indecifrável como o surpreendente
comportamento de alguns atletas num momento de extrema pressão e
elevação da carga emocional
Se o Brasil jogar com alegria, solto, unido dentro de campo e
consciente que a equipe pode superar a ausência de Neymar, existe a
chance real de um embate em igualdade de condições com os alemães. Se
entrarmos com o sentimento partido – sangue latino aflorado – com choros
e emoções desassociados com o momento decisivo da Copa, poderá ser o
ponto final para todos nós.
Enfrentaremos um time frio, racional e obediente técnica, tática e
psicologicamente. Eles atuam de forma profissional – dentro dos
conceitos mais modernos de preparação psicológica. Os alemães trouxeram
ao Brasil todos os equipamentos e tecnologias para a preparação física –
técnica e psicológica. Essa última, inclusive, com aparelhagens de
biofeedback e neurofeedback para gerenciamento da concentração, controle
da ansiedade e manejo da energia de ativação interna dos atletas. Em
termos de preparação esportiva, eles estão anos luz na nossa frente.
Agora, o futebol se decide dentro de campo – com a cabeça e a emoção,
equilibrados, na ponta da chuteira. Atleta e ser humano em ação. Vencerá
aquele que mais apostou nas duas faces dessa mesma Unidade.
Fonte:http://www.gazetaesportiva.net/blogs/joaoricardocozac/2014/07/06/psicologia-e-emocoes-a-toda-prova/
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