Poder-se-ia dizer que, axiologicamente, a Polícia Militar tem perdido
parte de suas finalidades. Hoje em nossas cidades, instalou-se o medo
generalizado como meio coercitivo. Nicolau Maquiavel dizia que “há uma
dúvida se é melhor sermos amados do que temidos. Como é difícil juntar
as duas coisas, é preferível que sejamos temidos”. Na tentativa de
entender a doutrina que parte da polícia tem adotado em relação ao
cidadão, eu modificaria o pensamento de Maquiavel: “Já que é impossível
sermos amados, sejamos temidos”. Talvez isso explique o alarmante índice
de crimes de pistolagem e outras mazelas praticadas por policiais. A
Teoria do “Broken Windows” (janelas quebradas) pode, de maneira inversa,
aplicar-se ao crescimento da violência policial. Por esta teoria, se um
indivíduo quebra a janela de sua casa e você nada faz, depois ele volta
e quebra a sua porta, até tomar a casa inteira. Quando começaram os
primeiros casos de execução sumária em Goiás, a maioria desinformada de
nossa sociedade dava de ombros dizendo que “ao menos estavam matando
bandidos”. O Judiciário, sob o mesmo argumento, absolvia e absolve
criminosos portadores de distintivos. A violência que se iniciou nos
bairros periféricos, contra pessoas pobres, agora não faz distinção.
Houve a “democratização do mal”. Absolvidos social e judicialmente, os
facínoras deixam a sociedade amedrontada e o “cidadão de bem” fica sem
saber a quem temer mais, se ao bandido comum ou aquele travestido de
agente da segurança pública.
(Deusamar Borges Cardoso, advogado, escritor, jornalista, e-mail: deusamarcardoso.escritor@gmail.com)
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