A Escola Primária Sandy Hook, em Newtown, seguia as medidas de segurança
convencionais dos estabelecimentos de ensino norte-americanos, mas, tal
como tantas outras, não estava preparada para o massacre de
sexta-feira.
Na última sexta-feira, Adam Lanza, de 20 anos, conseguiu entrar na
Escola Primária Sandy Hook, em Newtown, Connecticut, e matou 26 pessoas,
20 delas crianças. O homicídio levantou uma questão: até que ponto os
estabelecimentos de ensino nos Estados Unidos são seguros e estão
preparados para ataques como o de Newtown? A resposta pode surpreender,
mas números oficiais dizem que as escolas norte-americanas são mais
seguras agora do que nos anos 1990.
Segundo dados do Departamento de Educação norte-americano, citados pela Bloomberg,
no ano lectivo 2009/2010, 17 crianças e jovens com idades compreendidas
entre os cinco e os 18 anos foram vítimas de homicídio em escolas, a
caminho ou no regresso das aulas e em eventos escolares. Estas 17 mortes
representam cerca de metade da média anual registada na década de 1990.
Foi no final desta década, em 1999, que os Estados Unidos assistiram a
um dos casos mais trágicos ocorridos numa escola, quando dois jovens
armados entraram no liceu de Columbine, no Colorado, e mataram 12
colegas e uma professora.
Homicídios como este aumentaram a aposta
das escolas na sua segurança nos últimos anos, através da colocação de
seguranças à porta dos estabelecimentos de ensino, do reforço do
controlo nas entradas nos recintos escolares ou ainda com o treino de
professores e auxiliares para situações como a de Newtown, conflitos
entre alunos ou bullying.
No entanto, esta aposta na
segurança é mais consistente nas escolas secundárias. Nas primárias como
a de Sandy Hook nem sempre a presença de um segurança é garantida
durante todo o período de aulas. Há escolas onde estão colocados oito
seguranças diariamente, como é o caso do Liceu Hamilton, em Chandler,
Arizona, frequentado por 3600 alunos. Aos meios humanos junta-se um
sofisticado sistema de passes que dão acesso à escola. Muitos
estabelecimentos tentaram adquirir sistemas de detectores de metais, mas
concluíram que, além de “dispendiosos”, “eram complicados para o
pessoal da escola”, como contaram à Bloomberg especialistas em segurança.
Porém,
há escolas que não cedem na segurança. É o caso da primária de
Devonshire, em Chicago, que tem sempre todas as portas fechadas. Para
entrar, é necessário tocar à campainha, mostrar uma identificação e
passá-la por um scanner que regista o documento. Este é depois armazenado numa base de dados.
Stephen
Brock, professor da Psicologia Escolar na Universidade da Califórnia e
responsável pela formação de mais de quatro mil educadores para prevenir
e responder a “situações de crise”, não tem dúvidas: “As escolas são
seguras e são mais seguras do que eram”. Mas Stephen Brock admite que
nem sempre são à prova de pessoas como Adam Lanza. “A não ser que
transformemos as nossas escolas em prisões, não conseguiremos impedir
que pessoas verdadeiramente motivadas entrem nos recintos escolares. Há
coisas que devemos fazer, mas há limites”, defendeu à Bloomberg.
"Segurança psicológica"
Depois do massacre de Columbine, as escolas concentraram-se naquilo que Stephen Brock designa como “segurança psicológica”, através de medidas que fomentam a comunicação entre pessoal docente, pais e alunos. O objectivo é garantir o respeito entre alunos e professores e que os estudantes com problemas de comportamento sejam acompanhados e ajudados a controlar a sua agressividade.
Mas, apesar de todos estes passos,
casos como o do Connecticut acontecem. A Escola Primária Sandy Hook
tinha acesso controlado à entrada – os pais tocam à campainha e o
pessoal, depois de fazer o reconhecimento do encarregado de educação,
abre a porta –, bem como um plano de emergência, que previa que os
alunos numa situação de risco fossem levados para salas de aulas
interiores. Para garantir que este plano funcionava, eram feitos quatro
exercícios de preparação por ano com alunos e professores.
Porém,
apesar destas medidas preventivas, Adam Lanza conseguiu forçar a entrada
na escola na última sexta-feira, disparando sobre uma janela para
aceder ao interior. Para conseguir levar a cabo o seu massacre, atingiu
mortalmente a tiro seis adultos, os que estariam mais bem preparados
para situações de ataque como o que aconteceu.
“Muitas escolas
acreditam que nada tão horrível como o que aconteceu no Connecticut vai
acontecer-lhes. Querem ter uma comunidade escolar acolhedora, que seja
segura, mas que não pareça uma prisão”, afirma Jillayne Flanders,
directora da Escola Primária de Plains. A responsável reviu a forma de
entrada no seu estabelecimento de ensino depois de verificar que para se
ter autorização para aceder às salas de aula era necessário estar
dentro do edifício.
Fonte:http://www.publico.pt/mundo/noticia/tragedia-em-newtown-aconteceu-mas-escolas-nos-eua-estao-mais-seguras-1577786
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