Em discussão o papel da psicóloga negra
Qual é o papel da psicóloga negra numa sociedade marcada pelo
preconceito? O tema despertou um grande debate no painel que tratou do
tema "O feminino na psicologia: muitas e diferentes mulheres". A
coordenadora do Observatório Negro, psicóloga Jesus Moura, abordou a
ampla mobilização que teve início com o I Encontro Nacional de
Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (os) das Relações Raciais e
Subjetividades - I PSINEP, realizado em 2010, em São Paulo. O próximo
encontro será em Recife, de 21 a 24 de março de 2013.
A partir do encontro está se consolidando uma rede de psicólogos
negros que trabalham com questões raciais, informou a psicóloga. "O I
Encontro foi realizado na USP, onde sempre houve resistência no trato de
questões que interessam aos psicólogos negros, mas agora a situação
está mudando", comemorou.
Jesus Moura explicou que um dos principais objetivos da entidade que
dirige está em fazer os profissionais compreenderem os processos
psíquicos enfrentados pelas pessoas negras ao serem expostas à
discriminação racial e ao racismo institucional. "O profissional negro
precisa enfrentar este desafio. Antes de qualquer atitude, nós devemos
entender nós mesmas. Já é difícil ser negro, e mais difícil ainda, é
assumir a identidade negra", afirmou Jesus Moura.
A professora defendeu a necessidade de uma “desconstrução pessoal” no
caso de psicólogos negras, que trazem uma bagagem de preconceito ao
longo da vida. “A partir do momento que vemos em nós reflexos disso e
nos conscientizamos, fica mais fácil fazer um trabalho com o outro. Tem
que haver uma construção social. O objetivo é aprender a lidar com as
diferenças e nós, como profissionais em psicologia, devemos ter esse
cuidado como princípio”, afirmou.
A psicóloga gaúcha, Eliana Xavier, lembrou durante os debates que no
Rio Grande do Sul os negros representam 16% da população, mas para o
restante do país os países do Sul são passados pela mídia como estados
de brancos."Quando enxergamos esse racismo precisamos, como
profissionais, saber como entender e enfrentar esse processo
anti-ético", disse.
Carta do I PSINEP
O Encontro de Recife, em março de 2103, será um desdobramento dos
debates do fórum realizado em São Paulo em 2010, quando foi divulgada a
Carta de São Paulo, segundo explicou Jesus Moura. No documento, os
psicólogos reafirmam o entendimento de que o racismo constitui uma das
questões mais fundamentais para a compreensão dos processos de
exploração e dominação instalados na sociedade brasileira.
“Tal condição exige que todos os esforços sejam empreendidos no
sentido de elucidar seus mecanismos que, engendrados em uma história
marcada por séculos de escravização, resultaram em padrões de relações
raciais que ocultam perversamente a violência sistemática imposta
historicamente à população negra”, assinala a Carta.
De acordo com os participantes do 1 PSINEP, “o racismo à moda
brasileira constitui um dos mais sofisticados e enigmáticos mecanismos
que, operando por meio da violência sistemática e silenciada, produz e
torna cada vez mais agudas as desigualdades sociais, que no Brasil têm
também um viés eminentemente racial”.
“Estes aspectos – reforça a Carta de São Paulo- se encontram
fortemente inscritos nas dinâmicas institucionais que regem o
funcionamento da sociedade brasileira, marcada em seu imaginário pelo
mito da democracia racial, condição responsável pela configuração de
formas de subjetivação social que naturalizam práticas correntes
pautadas no racismo, na discriminação e no preconceito.”
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