Você sabe o que seus amigos fizeram no verão passado - -e neste
também. É só entrar em qualquer rede social para ser bombardeado por
dias ensolarados, asas de avião e drinques na praia.
"Sem a câmera, sinto que perco algo importante", diz blogueira.
O hábito de registrar tudo --das férias à ida ao restaurante-- ganhou força com a popularização dos smartphones e de aplicativos que "filtram" e dão mais cores à realidade. É a "hiperdocumentação" do cotidiano.
O que motiva os "instagramers" (usuários da rede social de
compartilhamento de imagens) é o desejo de ser valorizado socialmente,
segundo o psicólogo Cristiano Nabuco, do Hospital das Clínicas de São
Paulo. "As pessoas abrem mão da sua privacidade em troca de um afago na
cabeça, que é representado pelo curtir", diz ele.
Por dia, em todo o mundo, são publicadas 40 milhões de fotos no
Instagram, que possui 90 milhões de usuários ativos por mês, segundo
dados recentes da empresa (que não revela números do Brasil).
No próximo mês, chega ao mercado a câmera sueca Memoto, que tira uma
foto a cada 30 segundos. A novidade tem quase 3 cm, GPS embutido, pode
ser presa à roupa e dispara sozinha, sem necessidade de comando. A
bateria dura até 48 horas.
"Hoje, fotografamos mais do que nunca, mas temos dificuldade em
organizar as imagens. Com a Memoto dá para saber quando e onde foram
feitas todas as fotos", disse à Folha o sueco Oskar Kalmaru, um dos
criadores do produto. A câmera custa U$ 279 (R$ 554) e já foi
encomendada por 2.800 pessoas.
Para o fotógrafo Carlos Recuero, professor da UCPel (Universidade
Católica de Pelotas) e pesquisador do tema, os álbuns virtuais têm a
mesma função dos antigos álbuns de papel. A diferença (e o que motiva
mais a mania) é a repercussão. "Não é mais preciso esperar as visitas em
casa para mostrar as fotos", diz.
Essa banalização de cliques é positiva, na visão de Wagner Souza e Silva, fotógrafo e professor da USP.
"A fotografia data de 1839, mas acho que está sendo descoberta agora.
Fotografar está deixando de ser documentar grandes fatos. Pequenas
histórias do dia a dia passam a ter valor informativo. Isso não pode ser
desprezado."
Para Andréa Jotta, psicóloga do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em
Informática da PUC-SP, o hábito pode ser prejudicial quando registrar
fica mais importante do que aproveitar a experiência. "O estímulo para
fotografar não deve ser só exibir a imagem. Ninguém precisa acompanhar
sua vida amiúde. Nesse caso, nem você está acompanhando-a de verdade."
RETRATO DE FAMÍLIA
Das últimas cem fotos publicadas pelo analista de redes sociais
Rafael Noris, 43 são do filho Miguel, 2, retratado em um blog desde seu
nascimento. "Tento não ser monotemático", afirma Rafael, 23, fundador do
grupo Instagramers Campinas, que reúne usuários do aplicativo para
encontros de fotografia na cidade. Há 300 grupos desses ao redor do
mundo.
"O que gosto no Instagram é a possibilidade de ver as coisas com os olhos de outra pessoa", diz ele.
Mas, às vezes, ver as aventuras alheias pode não ser bom. Estudo
recente da Universidade Humboldt e da Universidade Técnica de
Darmastadt, na Alemanha, feito com 600 pessoas, apontou que um em cada
três entrevistados se sentia insatisfeito com a própria vida depois de
acessar o Facebook.
Fonte: Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário