Chevron
Para especialista, ecossistema local será recuperado em pouco tempo, mas
caso expõe irresponsabilidade das companhias petrolíferas.
O vazamento de petróleo na Bacia de Campos,
no litoral do Rio de Janeiro, provoca mais danos éticos do que
ecológicos. A declaração é do professor André Felipe Simões, coordenador
do curso de gestão ambiental da EACH (Escola de Artes, Ciências e
Humanidades) da USP (Universidade de São Paulo). Para ele, as falhas
cometidas pela Chevron, companhia norte-americana que administra a
plataforma onde houve o acidente, são grandes.
“A Chevron não
investiu o necessário para impedir que acontecesse um desastre
ambiental. Além disso, mentiu para as autoridades brasileiras ao alegar
que tomou as precauções devidas e ao tentar responsabilizar a Petrobras.
Houve uma falha moral e ética muito grande”.
Segundo dados da Chevron, durante pouco
mais de 10 dias foram derramados no Atlântico 2.400 barris de petróleo.
Segundo a ONG SkyTruth, foram cerca de 15 mil barris.
De acordo
com Simões, não houve apenas falha humana no vazamento de petróleo, mas
também problemas nos equipamentos. “A plataforma que eles utilizavam
está totalmente defasada”.
Meio ambiente
Segundo
o professor da USP, o vazamento ocorrido no litoral brasileiro não é
grave como o registrado em abril do ano passado, no Golfo do México,
quando uma plataforma da British Petroleum explodiu, matando 11 pessoas e
lançando no mar cerca de 4 milhões de barris de petróleo. Por isso, a
recuperação do ecossistema é questão de tempo.
“A regeneração é
viável, não se trata de uma catástrofe absurda. Foi um incidente de
média proporção”. No entanto, ele faz uma ressalva. “Serão necessários
ao menos dois dias para avaliarmos o real impacto. Se algum berçário de
espécies for atingido pelo óleo, vai piorar a situação”.
Um fato
que chamou a atenção do especialista é a grande repercussão do incidente
entre a população. “Há 15, 20 anos a repercussão seria bem menor. O
caso não teria toda essa visibilidade. Hoje, as pessoas discutem isso
nas ruas, nos bares. A questão ambiental passou a ganhar importância e
isso é um bom sinal. Temos um paradigma para as novas gerações”.
Fiscalização
A
partir de agora, a preocupação se concentra na regulamentação das
empresas que exploram petróleo nas bacias brasileiras. “O problema é que
falta o cumprimento de leis. A Chevron cometeu várias falhas e agora
vai ter de agir para reverter o impacto ambiental e também os danos à
sua própria imagem.
Ele espera que, após o vazamento, aumente a
pressão por maiores investimentos em segurança. “A tecnologia para
exploração em águas profundas é complexa, mas segura. Não um foi
problema de tecnologia, foi um problema ético. Trata-se de algo
totalmente evitável”.
Pré-sal
Atualmente,
80% do petróleo mundial é extraído em terra, mas a exploração marítima
tem crescido significativamente. De acordo com informações do CBIE
(Centro Brasileiro de Infraestrutura), o Brasil já é o país onde a
produção marítima é mais elevada (95% do total). Com a futura exploração
do pré-sal, este índice deve crescer ainda mais.
No entanto, a
exploração no pré-sal passou a ser questionada por causa do acidente em
Campos. Para Simões, o vazamento não intimidará os investimentos nestes
poços de petróleo em regiões ultra profundas.
“Acidentes não vão
abalar a busca, porque os lucros serão sempre muito grandes. Os únicos
empecilhos são técnicos. Quando a tecnologia para extração estiver
totalmente desenvolvida, ela será realizada”.
O professor da USP
não vê problemas na extração do pré-sal, mas cobra uma fiscalização
ainda maior. “O governo cogitou impedir a Chevron de realizar extração
no pré-sal, por causa do incidente no Rio de Janeiro. Isso deve servir
como exemplo e as autoridades brasileiras devem estar atentas, porque um
acidente como esse no pré-sal seria dramático”.
Fonte: http://www.band.com.br/noticias/cidades/noticia/?id=100000470889